UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
LICENCIATURA EM HISTÓRIA
Claudinei
Silva dos Santos – RA 1714101546
Israel
Fabiano do Espirito Santo Campos
– RA 1714100026
Marcelo
de Castro – RA 1714100319
História, Cultura e Sociedade: História Social e Cinema
Abordar
às linguagens e perspectivas que o cinema propõe quanto aos fatos históricos e
sua utilização pedagógica
São Paulo
2016
Claudinei
Silva dos Santos – RA 1714101546
Israel
Fabiano do Espirito Santo Campos
– RA 1714100026
Marcelo de Castro – RA
1714100319
História, Cultura e Sociedade: História e Cinema
Abordar
às linguagens e perspectivas que o cinema propõe quanto aos fatos históricos e
sua utilização pedagógica
Trabalho
de conclusão de curso de graduação apresentado a Universidade Nove de Julho
como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura em História.
Área
de habilitação: Bacharelado em História
Orientador: Professor Dr. Roberto
Marcelo Caresia
São Paulo
2016
Dados
Internacionais de Catalogação na Publicação
Inserir aqui a ficha gerada a partir
do Sistema de Geração Automática de Fichas Catalográficas, disponível no
endereço:
Claudinei
Silva dos Santos – RA 1714101546
Israel
Fabiano do Espirito Santo Campos
– RA 1714100026
Marcelo
de Castro – RA 1714100319
História, Cultura e Sociedade: História Social e Cinema
Abordar
às linguagens e perspectivas que o cinema propõe quanto aos fatos históricos e
sua utilização pedagógica
Trabalho de conclusão de curso de graduação
apresentado a Coordenadoria de Licenciatura da Universidade Nove de Julho de
São Paulo, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharéis em História.
Aprovado em: ____ de _______ de _____.
BANCA
EXAMINADORA
__________________________________________
Professor Roberto Marcelo Caresia - Uninove
(orientador)
SUMÁRIO
Justificativa
Propor uma discussão
sobre a função do cinema, como instrumento pedagógico nos ensinos Fundamental e
Médio, na disciplina de história e seu uso adequado para alcançar os objetivos
propostos pelo educador em seu planejamento. Assim, temos como proposta ir
além do uso desta linguagem apenas como adorno às aulas normais, mas transformá-la
em ator importante no ensino da História e suas influências dentro da
sociedade. Com está abordagem, queremos trazer a tona todos os requisitos
pedagógicos necessários para orientar os alunos em como trabalhar com o cinema
e sua relação com os fatos historiográficos.
[...] “o cinema é “produto da História” (...) É nesse sentido
que as obras cinematográficas devem ser tratadas pelo historiador como “fontes
históricas”. (...) O lugar que produz o cinema é também o lugar que o recebe,
de modo que a fonte fílmica compreende uma sociedade, simultaneamente, a partir
do sistema que a recebe, de modo que a fonte fílmica tem sido utilizada cada
vez com mais frequência pelos historiadores contemporâneos”. (BARROS, 2012,
p.67-68).
Evidenciar questões teóricas e caminhos de
investigação em aberto com relação às reflexões sobre a relação entre cinema,
conhecimento histórico e ensino de História.
INTRODUÇÃO
No
artigo respondemos algumas questões importantes: Qual a melhor forma de
utilizar os filmes como recursos didáticos no ensino de história? O filme de
ficção pode ser fonte para o historiador? Como analisar a realidade produzida
pelo cinema dentro da sociedade? Porque os historiadores negligenciaram o
cinema como fonte histórica? Identificaremos
as principais hipóteses que respondem às questões como a construção das
produções cinematográficas, seu enfoque pessoal sobre determinados fatos
históricos. Problematizando a subjetividade com que os autores tratam os temas
proposto e suas influências dentro da sociedade através do determinismo que os
filmes e documentários impõem.
A
metodologia empregada para o desenvolvimento do trabalho será abordar as
principais teses, hipóteses e metodologias dos autores, tendo como foco central
o debate sobre como utilizar o cinema como um instrumento pedagógico na
discussão e ensino da história.
Nesse quadro estabelecido pelas inter-relações de
poder que olhamos a produção filmica e observamos as mesclas destas linhas
relacionais de poder e como elas se legitimam nas condições organizadas ou
estrategicamente desenhadas/delineadas para parecerem assim, ou ainda para
maior aceitação de um discurso predominante e unitário, a fim de manter
padrões, estereótipos, conceitos normatizados no qual se enquadra uma
sociedade. Em linhas gerais, o cinema abarca, além do que já foi mencionado um
caráter difusor e mediador de ideais, visões, realidades, sociedade, cultura e
ficção. Podemos perceber de maneira concisa a influência do cinema em suas
produções fílmicos no período da Ditadura Militar, Pós-guerra, Repressão de
Hitler e Mussolini, dentre outros contextos fílmicos que englobam a produção
cinematográfica.
Contudo,
é preciso que o educador e o pesquisador tenham em vista estas considerações ao
fazer uso desta fonte na sala de aula ou em suas pesquisas, problematizando o
contexto fílmico através de textos complementares e ainda construindo ou
expondo com os alunos um breve roteiro com questionamento, um levantamento
bibliográfico e biográfico como, por exemplo: Quem produziu o filme? Quando e
onde foi produzindo? O que diz (ou não diz) o filme? Para que/quem produziu?
Tendo
em vista estas questões, os educadores terão uma visão geral dos pontos que
serão analisados mediante a elaboração de um plano de ensino, contendo estas e
outras questões baseadas nos textos complementares e nas imagens audiovisuais.
Os educadores assumem uma postura onde compreendem um conjunto de aptidões
voltadas aos métodos de construção do conhecimento, socializando esses saberes.
Nessa perspectiva estabelece relações interativas que possibilite elaborar
representações pessoais sobre os conhecimentos, objetos do ensino e da
aprendizagem. O ensino se articula em torno dos alunos e dos conhecimentos, e a
aprendizagem depende desse conjunto de interações. Assim ensino e cinema fazem
parte de um processo de construção compartilhada de diversos significados,
orientado para a progressiva autonomia do aluno na crítica e na abordagem.
O
artigo se propõe a demonstrar as possibilidades pedagógicas que o cinema dentro
da escola oferece. Tomando como ponto de partida o gosto pelo cinema, este assume
papel de protagonista no enredo do processo ensino-aprendizagem. As ideias, as
discussões, tudo isso fará com que o aluno entenda melhor o passado,
relacionando-o com o presente e vislumbrando o futuro, numa análise crítica,
agregando conhecimento.
Palavras-chave: Cinema. História. Linguagem.
Instrumento pedagógico. Construção subjetiva. Olhar histórico. Documento.
Influências. Sociedade. Cultura. Metodologia. Historiografia.
objetivo
Tratar o cinema como um documento
histórico levantando um grande número de questões teórico-metodológicas, que
nos leva a questionar a natureza das relações entre as imagens cinematográficas
e a sociedade que produz essas imagens. Como se construiu, historicamente, a
percepção do valor documental do cinema? Este é o ponto de partida deste
trabalho, que procura sistematizar as diferentes concepções e abordagens do
tema. Tenta também esclarecer as diferenças entre trabalhar com documentos
escritos, como a maioria dos historiadores faz, e trabalhar com material
audiovisual - neste caso, filmes. Problematizaremos os desafios que o
historiador enfrentará, ao abordar um material cujo tratamento exige uma
reflexão nova, a partir de bases diferenciadas.
Procurou-se
enfocar a função pedagógica do cinema, estabelecendo as relações deste com a
indústria cultural, aprofundando a ideia de cinema como fator de politização e
sobre o uso da sua linguagem. Refletir também sobre a presença no cinema na
escola brasileira e as possibilidades de uso pelo professor tanto sob o ponto
de vista técnico quanto pedagógico. Analisou-se o projeto político-pedagógico
para se verificar a concepção de cidadão que a escola pretende formar e para
que sociedade bem como se contempla o uso do cinema. Dividimos o
artigo em tópicos específicos: História do Cinema; O cinema como reflexo da
sociedade; O cinema como
documento histórico; Utilização
do cinema nas salas de aulas; Conclusão.
História do Cinema
É importante ressaltar que desde os
primórdios da humanidade, as imagens fazem parte do modo como nos vemos e nos
reconhecemos. O homem tem registrado estas imagens, por meio das pinturas
rupestres, da iconografia, da fotografia, do cinema e também através de outros
meios, mediante os avanços tecnológicos de cada época.
No que diz respeito ao cinema, cuja
palavra tem sua origem etimológica na palavra grega clássica “kinema”, tem como
significado “imagem em movimento”. Esta imagem em movimento possibilita aos
telespectadores assistirem uma representação da realidade social da época em
que vivem ou de épocas passadas.
Porém, para que pudéssemos desfrutar
de tal representação, o cinema, como toda a arte, teve seu nascimento e seus
precursores. É bem verdade que o cinema não foi descoberto por apenas uma
pessoa e também não surgiu repentinamente num único e exclusivo lugar, na
verdade, esta invenção envolveu diversos inventores no final do século XIX,
onde estes passaram a mostrar os resultados de suas pesquisas através de
incansáveis buscas pelo aperfeiçoamento das técnicas de projeção de imagens em
movimento. As técnicas fotográficas, a invenção do celuloide e a maior precisão
na construção dos equipamentos de projeção, são exemplos destes
aperfeiçoamentos.
O cinema também nasceu de práticas
de representações visuais pictóricas, como por exemplo, os panoramas e os
dioramas, que eram pinturas de grandes dimensões e profusão de detalhes que
pareciam reais, e dos “brinquedos ópticos” do século XIX, como o taumatrópio
(1825), o fenaquistiscópio (1832) e o zootrópio (1833).
Através de um mecanismo
intermitente, aconteceram as primeiras exibições de filmes, isso ocorreu entre
1893 e 1895, quando Thomas A. Edison registrou nos EUA a patente de seu
quinetoscópio, e os irmãos Louis e Auguste Lumière realizaram em Paris a famosa
demonstração pública e paga, de seu cinematógrafo. Edison produziu os filmes
para o quinetoscópio num pequeno estúdio construído nos fundos de seu
laboratório. Em 1894, os Lumière, com base nas máquinas de costura, construíram
o aparelho, que usava filme de 35 milímetros, e contava com um mecanismo de
alimentação intermitente, onde captava as imagens numa velocidade de 16 quadros
por segundo - o que foi o padrão durante décadas - em vez dos 46 quadros por
segundo usados por Edison.
Importante salientar que os irmãos
Lumière não foram os pioneiros em exibir filmes de forma pública e paga. Dois
meses antes da famosa apresentação ocorrida em Paris, os irmãos Max e Emil
Skladanowsky fizeram uma pequena apresentação que durou cerca de 15 minutos por
meio de um bioscópio, num teatro de vaudeville em Berlim. Porém, mesmo não
sendo donos do pioneirismo, Auguste e Louis Lumière são os que ficaram mais
famosos, por serem negociantes experientes. O Grand Café, em Paris, onde foi
demonstrado o invento para o público, em exatamente 28 de dezembro de 1895, foi
um lugar propício e determinante para que o cinema se desenvolvesse nos
primeiros anos de vida.
Na verdade, no final do século XIX,
os diversos aparelhos construídos para projetarem filmes, surgiram mais como
uma curiosidade, juntamente com muitas outras engenhocas. Estes aparelhos eram
demonstrados em palestras e círculos de cientistas da época, sem esquecer que
fizeram parte das diversões populares, como por exemplo, os circos, parques e
vários espetáculos. Nos anos seguintes às invenções em questão, as técnicas
foram sendo inovadas constantemente, isto é, houve de fato uma corrida em busca
da criação dos melhores e mais práticos equipamentos.
Claro que no início, por volta de
1895, o cinema aparece sem um código próprio, ou seja, estava misturado a
outras formas culturais, como por exemplo, os espetáculos de lanterna mágica,
os cartões postais, os cartuns, o teatro popular e também as revistas
ilustradas, mas pode-se afirmar que o cinematógrafo inventado no final do
século XIX, é sem dúvida um marco. As projeções das sombras e dos feixes de luz
consolidaram o cinema na expressão artística por excelência do século XX e
inaugura uma era de predominância das imagens.
No que diz respeito à lanterna
mágica, esta atração existia desde o século XVII, onde um apresentador, através
do foco de luz gerado pela chama de querosene e com acompanhamento de vozes,
músicas e efeitos sonoros, mostrava ao público imagens coloridas projetadas
numa tela.
Por muito tempo, o cinema dos
primeiros 20 anos, foi de certa forma, desconsiderado para a sua própria
história, isto é, foi visto apenas como desajeitadas tentativas daquilo que se
estabeleceria nos anos seguintes. Em outras palavras, o cinema se encontrava
num estágio preliminar de linguagem, haja vista que os filmes teriam aos poucos
superados suas limitações iniciais e no decorrer das produções, foi ganhando
forma e transformado em arte pelo fato de ter agregado os princípios
específicos de sua linguagem conectados ao manejo da montagem, esta última
considerada como elemento fundamental da narrativa.
Podemos dizer que, no início, o
cinema utilizava várias formas não clássicas de narrativa, como por exemplo, o
formato das atrações que por serem relatos incompletos, precisava de um apoio
no conhecimento do espectador sobre o assunto ou nos comentários de quem o
fazia. Os cenários eram bem simples e chapados e possuíam painéis pintados e
bem poucos objetos de cena. A sensação de platitude e de teatralidade era
evidente, isso porque o deslocamento dos atores se dava pelas laterais.
Os filmes encenados já existiam
desde o início do cinema, porém na primeira década, os filmes documentários, ou
atualidades, como eram chamados, ganharam espaço e chegaram a superar as
ficções. A maior parte dos documentários tinha como base os eventos
sensacionais do momento. Há que se destacar também as misturas de filmagens,
que embora filmadas de situações autênticas, eram adicionadas reconstituições e
trucagens, além de muitas cenas documentais nas ficções, o que era considerada
normal pelos espectadores.
O período que vai de 1902 a 1907 é
marcado por inúmeros experimentos pelos cineastas no que diz respeito à
tentativa da junção de planos nos filmes narrativos, cujas montagens de planos
chamam a atenção por muitas vezes constituírem flagrantes exemplos de
descontinuidade.
Em meados de 1907, os filmes passam
a utilizar convenções narrativas especificamente cinematográficas, e com isso
busca-se desde então, a tentativa de construir enredos autoexplicativos, ou
seja, a ação física deixa de ser prioridade, dando chance para a introdução de
uma maior definição psicológica dos personagens. Sendo assim, há a consolidação
do modelo das ficções de um rolo só (mil pés), com variações entre gêneros.
É de suma importância comentar essas
tentativas de construção de novos códigos narrativos, porque tais construções
possibilitaram que fossem transmitidas ao espectador as intenções e motivações
de personagens, haja vista que isto ocorre paralelamente com as tentativas de
regulamentação e racionalização da indústria. Entretanto, vale ressaltar que,
essas novas estruturas narrativas são ainda um tanto confusas e ambivalentes, o
que colocou em evidência as muitas diferenças entre cada estúdio ou produtora
no que diz respeito às estratégias usadas por cada uma delas.
Mesmo assim, em resposta à
necessidade de satisfazer a crescente demanda dos exibidores, as práticas de
produção de filmes, vão sendo padronizadas. Destaca-se neste contexto o
estabelecimento de cinemas em locais permanentes, o que ajuda na racionalização
da distribuição e da exibição. Com toda essa especialização da produção de
filmes, as convenções de linguagem vão se codificando mais e mais. Surge também
por parte das produtoras, a busca pela satisfação quanto às pressões do Estado
e grupos organizados no que diz respeito a certos temas e maneiras de abordagem
dos mesmos, estabelecendo-se com isso os processos de autocensura e moralização
na elaboração de enredos e formatos.
As evoluções e desenvolvimentos do
cinema são evidentes, haja vista que o sistema colaborativo de produção de
filmes foi sendo substituído por uma crescente divisão do trabalho e
especialização de funções, chamados de unidades de produção, constituído pelos
diretores, roteiristas, os responsáveis pela iluminação, os responsáveis pelos
vestuários, os maquiadores, os cenógrafos, etc.
Nos anos seguintes a 1907, no
sentido de tornar as ações narrativas mais claras para o espectador, as
técnicas de filmagem, iluminação, atuação e montagem são notavelmente
desenvolvidas. Em 1913, a indústria cinematográfica passa a ser de fato
respeitada, despertando uma parcela cada vez maior do público a frequentar os
teatros luxuosos e mais caros. Poucos anos depois, em 1917, Hollywood já era
localização da maioria dos estúdios norte-americanos, e a duração dos filmes já
tinha aumentado consideravelmente de um rolo para 60 ou 90 minutos, os
longas-metragens.
Esta transição para os
longas-metragens foi de forma gradual e liderada pelos filmes europeus de
múltiplos rolos, principalmente os épicos italianos, que eram distribuídos nos
Estados Unidos. Também é importante comentar que os primeiros longas-metragens,
com duração de mais de uma hora ganham mais espaço e se generalizam após a
Primeira Guerra Mundial. O convencimento da indústria norte americana em
produzir filmes mais longos, se deu pelo lucro e popularidade dos filmes de
época europeus.
O problema existente nessas
produções, é que ainda se mantinham a estrutura narrativa dos filmes de rolo
único, onde eram desenvolvidas apenas um incidente até o seu clímax no final do
rolo, e havia uma repetição dessa estrutura nos rolos seguintes, porém os
cineastas logo perceberam que a duração mais longa dos filmes, permitia a
inclusão de mais acontecimentos e personagens articulados ao enredo principal.
Por volta de 1917, o cinema já não mais dependia de outras mídias, isto é,
estava livre. Aliás, o cinema se torna a mídia mais importante do século XX.
Percebemos que todas essas
estruturas são fruto de uma transição que teve por objetivo uma maior
organização da indústria para atrair o público de classe média e por
consequência conquistar respeitabilidade para o cinema, porém isso não
significou que houve a eliminação da classe baixa, pois esta última continuou a
assistir aos filmes nos cinemas mais baratos.
O homem moderno foi colocado diante
de uma situação nova, isso devido à invenção do cinematógrafo no final do
século XIX, o que resultou no desenvolvimento das técnicas, tecnologias e
concepções cinematográficas ao longo do século seguinte. A partir de então, se
abriu um leque de possibilidades para a imaginação e criatividade de cineastas
e público do mundo todo através da criação de imagens em movimento, às quais
seriam posteriormente incorporados os componentes para uma produção fílmica
completa. O cinema transforma-se na primeira mídia de massa da história.
.
O cinema como reflexo da sociedade
No começo
do século XX se inaugurou uma era de predominância das imagens e assim, o que
seria o cinema apareceu por volta de 1895 sem ter um código próprio e que se
misturava a outras formas de manifestações culturais, tais como os espetáculos,
o teatro popular, os cartuns, as revistas ilustradas e os cartões postais. Os
aparelhos surgidos no século XIX eram exibidos como novidades e usados em
demonstrações cientificas, palestras ilustradas e em exposições, mas as vezes
também apareciam misturados em outras diversões populares tais como circo,
parques de diversões e espetáculos de variedades. Assim, notamos que os
primeiros 20 anos do cinema foram de intensa mudanças e que se diferenciou da
época clássica de Hollywood que foi marcada por certa estabilidade no período
de 1915 e o início da televisão em 1950. A relação do cinema com a sociedade
tem um aspecto divisório à medida que a história do cinema se amplia e vai além
das práticas de projeções de imagens, englobando também os divertimentos
populares, os instrumentos opticos e as pesquisas com as imagens fotográficas.
Os filmes tendem a ser nesse sentido uma continuação na tradição das projeções
de lanterna mágica, em que desde o século XVII, um apresentador mostrava ao
público imagens coloridas projetadas numa tela, através do foco de luz gerado
pela chama de querosene, tendo o acompanhamento de vozes, música e efeitos
sonoros. Nesse aspecto notamos que o cinema não surgiu de um único criador ou
em um único lugar, mas foi fruto de uma conjunção de fatores técnicos e
invenções que permitiram o aperfeiçoamento e construção aparatos de projeção
que deram vida ao cinema.
Esses
aspectos são importantes ressaltar, pois mostram como as pessoas tiveram
contato com o cinema e puderam inserir em seu contexto de realidade e visão, à
medida que a vivacidade das imagens e sua reprodutibilidade facilitaram a sua
aceitação como pura representação da realidade. Dessa forma mesmo que os
expectadores soubessem que eram montagens, a magia e o encantamento produziam
uma reação de censo de realidade, sendo aceitas inclusive como provas
materiais, testemunhos insuspeitos e evidencias cientificas. Esse período ficou
conhecido processo de legitimação e que contribuiu para que nos dias de hoje a
sociedade pudesse ver a utilização do cinema como algo obvio e natural, se hoje
temos alternativas tecnológicas que geram discussões, nesse caso das imagens em
movimento (registros em filmes) já não deixa dúvidas de suas hipóteses e
finalidades. Então como podemos entender a aceitação, consumo e denominação do
cinema pela sociedade? Miranda (2011, p. 02). Explicita:
Institucionalizou se denominar o cinema como a sétima arte.
À parte disso, no transcorrer da sua história, o que se percebeu foi uma forte
caracterização do que se compreende como uma produção em escala industrial para
um público consumidor de bens culturais. No entanto, analisando por outro viés,
percebe se que a obra cinematográfica é fruto da concepção e da elaboração de
uma equipe de pessoas que se dedicam a transformar as intuições, as percepções,
as sensações em sequências de imagens concatenadas num enredo.
Assim
chegamos num ponto interessante de analise, à medida que a representação da
sociedade fica dividida entre mostrar a realidade de fato ou atender um mercado
que anseia e projeta sentimentos diversos em relação às produções. Em várias
partes do mundo o cinema se tornou uma das formas mais significativas da
sociedade, pois ele se transformou numa estancia formativa poderosa que
modificou e criou novas práticas e ritos, à medida que a sua visão de negócios
se ampliou para muito além das telas do cinema, portanto não se pode ignorar
que ele ao migrar para revistas, modas, produtos e discos colaborou para
infundir estilos de vida. Então como se analisar a realidade produzida pelo
cinema dentro da sociedade, já que os filmes podem ser questionados à medida
que não se sabe o quanto de realidade está inserida em seu conteúdo? Marc ferro
mostra essa tensão característica que o filme proporciona no que ele chama de
contra analise, pois, o filme atingiria as estruturas da sociedade, ou seja,
haveria uma zona de realidade não visível nos filmes e é aí que o historiador
deveria atuar para extrair a contra analise da sociedade.
A
sociedade representada pelo cinema perpassa pelo sentido de que ele em si não é
neutro e nem a imagem o é, pois, o olhar do artista sempre vai criar uma
divisão entre o que se vê, e o que se é retratado. Assim, temos algo que é
intransponível, pessoal e subjetivo, à medida que o cinema é feito por uma
equipe e também contém as visões propostas pelo diretor, que não poderá de fato
retratar fielmente a realidade, pois o olhar é diferente para cada um e também
produz diferentes sensações em quem assisti tais produções. Essa Dualidade se
reflete em dois aspectos fundamentais: linguagem e discurso, se por um lado o
cinema é um propagador de discursos e se torna nesse quesito um meio de
comunicação direcionado as massas, também ele não esquiva de ser considerada
uma arte por meio da sua linguagem expressa, que leva o telespectador a tecer
reflexões sobre a sociedade e o mundo ao seu redor.
Cinema como documento histórico
Somente com a ascensão da Nova
História é que se tornou possível a utilização de novas fontes, assim, o cinema
pode ser inserido nesse campo trazendo novas possibilidades de analises por
parte dos historiadores. Somente após 1970 é que de fato o cinema foi estudado
como fonte histórica porque até então os historiadores viam o cinema de ficção
como uma manifestação real que só existia no imaginário da sociedade e
produzida meramente para atender os anseios capitalistas de produção de massa.
As histórias das mentalidades possibilitaram colocar o cinema como um novo
objeto a ser estudado e utilizado como fonte histórica, essa aceitação ocorreu
devido ao fato da importância que o cinema ganhou como produto de revolução
cultural e percepção do mundo que nos cerca. O historiador ao usar o cinema
como fonte histórica tem que analisar o que a imagem reflete, se é uma
representação da realidade ou não passa de uma mera representação, além-claro
de se atentar para uma possível manipulação de imagem. Para se chegar a uma
aplicação metodológica adequada devesse analisar essas questões, pois elas
permeiam a relação cinema x realidade.
O movimento dos Annales trouxe o
cinema como objeto de fonte histórica e favoreceu as análises sobre a sua
relação com a sociedade, as ideologias e os discursos históricos
relacionando-os com o ensino de história. Suas analises vão desde a construção
lúdica do cinema até os aspectos econômicos que cercam a produção
cinematográfica, além de se delinear os fatores ligados as ideologias e as visões
de mundo representadas tanto pelas forças políticas como também por momentos
históricos específicos. Segundo Burke só com a terceira geração dos Annales é
que temas como sonho, infância, o corpo e a mulher passaram a fazer parte dos
estudos históricos, com a chamada história das mentalidades e a história
cultural. Assim o indivíduo voltasse para as práticas sócias e culturais,
fazendo com que seja valorizado em nível de estudos as experiências inseridas
no cotidiano e que incluem as manifestações ligadas a arte e ao entretenimento,
pois além de marcar a vivencia estas são compreendidas como possibilidades para
se entender as dinâmicas das sociedades no decorrer da história. Segundo Marc Ferro existe uma zona de realidade
não visível nos filmes e é aí que os historiadores devem atuar, a fim de ver
nesses espaços a contra analise da sociedade, pois independente dos poderes
dominantes e de suas intencionalidades a “câmera revela o funcionamento real
daquela sociedade”, sendo esse aspecto uma parte configurativa da linguagem
presente no cinema.
Para um filme ser usado pelo
historiador temos que basicamente entender e fazer uma distinção entre o que
seria os filmes produzidos a título de ficção, e os filmes Documentários. Pois
nos documentários podemos ver um registro primário do passado e seu conjunto
editado se transforma em um documento. No caso dos filmes de ficção a sua
analise como documentos históricos se daria em face da visão do seu
idealizador, pois como dito anteriormente tais filmes não teriam tanta
relevância à medida que eles não contemplariam o “real” existente na sociedade.
Então o que poderíamos extrair, além disso, em tais filmes? Para uma outra
vertente o filme de ficção só se manifestaria em relação ao imaginário da
sociedade, segundo Marc ferro “aquilo que não aconteceu (e por que não aquilo
que aconteceu?), as crenças, as intenções, o imaginário do homem, são tão
História quanto a História” (Ferro, 1992, p. 86).
Portanto, o uso do cinema como
conhecimento histórico nos abre caminho para duas possibilidades: seu uso como
fonte de conhecimento histórico e também como agentes da história, pois nesse
caso ele seria formador de consciência que dissemina na difusão de determinadas
visões do mundo, comportamentos e até estereótipos que ampliam a sua função. De
acordo com Nóvoa:
(...) nunca nenhum elemento ou agente histórico foi tão
importante a ponto de ter a sua designação associada à palavra história. Nenhum
documento se impôs tanto, de tal modo a fazer jus a uma elaboração teórica,
como ocorreu com o filme. Este, para o cientista social, para o psicólogo e
para o psicanalista, passou a ser visto como um modelador de mentalidades,
sentimentos e emoções de milhões de indivíduos, anônimos agentes históricos,
mas também como registro do imaginário e das ações dos homens nos vários
quadrantes do planeta (NÓVOA, 1995, p. 110).
Contudo essa capacidade de formação das
mentalidades está ligada aos contextos sócios – históricos nos quais os
indivíduos e a sociedade estão imersos. A diferença fica por conta dos filmes
históricos ou de época que deve ser analisado através das características
internas que o cerca e também o seu contexto- histórico em que foi
filmado. A reconstrução do real deve ser
levada em consideração pelo historiador juntamente com os aspectos das relações
sociais, o imaginário e a ideologia, sem deixar de lado a psicologia social que
deve ser aplicada ao contexto que está inserida a obra, pois dessa forma o
mesmo rigor cientifico para analises dos documentos escritos tem que aplicados
no momento em que são investigados.
Nesses termos o cinema pode ser
visto não só como uma forma de entretenimento, mas também como um elemento que
pode ser utilizado pelos historiadores a fim de se criar um espaço para a
problematização e reflexão sobre a sociedade e seus mais variados aspectos.
Lembrando que o cinema é um difusor não só de conhecimentos, mas também de
comportamentos sociais, formação de memorias e transformações sociais. Assim o
cinema se torna uma importante ferramenta no que tange as possibilidades
históricas de se entender a Sociedade e suas mudanças culturais.
Utilização do cinema nas salas de
aula
O cinema, tendo pouco mais de um
século de vida, é ainda um agente novo dentro das escolas. O sistema clássico,
“giz e lousa”, amparado quase sempre pelo livro, é o que ainda vigora. A
palavra de ordem nesse século é “globalização”, e ela atinge praticamente todas
as áreas de relações humanas, onde o aparato tecnológico (computadores,
notebooks, aulas e conferências à distância), devem ser parceiros recorrentes
nessa jornada de evolução. Por isso deve-se saber, de forma notoriamente
acentuada, que um instrumento não substitui o outro, ou vice-versa. O cinema,
assim como o computador, não substitui o material humano, o ser pensante, mas o
auxilia em momentos determinantes e faz com que aja uma maior compreensão do
que se pretende mostrar. É bom ressaltar também que a fita ou DVD, devem ser
enxergados como uma perspectiva a mais, isto é, como mais um objeto de ensino,
análise e estudo, e não mais como apenas algo figurativo.
Antes de chegarmos ao que diz
respeito ao uso do cinema nas salas de aulas, vale, aliás, é de grande
importância comentar que o uso do cinema foi desconsiderado, digamos assim, em
termos de valor para os estudos Históricos. Somente depois do surgimento da
Escola dos Annales, é que se dá o início, claro que de forma bastante
tímida, a introdução do cinema como um documento, digamos viável, para a partir
deste documento, serem analisados um determinado período e também a sociedade
que o produziu.
De acordo
com Circe Bittencourt, esta prática de recorrer utilizar as imagens
cinematográficas como recurso didático no ensino de História não é novidade. Já
em 1912, o Professor Jonathas Serrano, docente e autor de livros didáticos do
Colégio Pedro II já incentivava seus pares a recorrer a filmes de ficção ou
documentários para facilitar a aprendizagem da disciplina.
Segundo esse educador, os professores teriam condições, pelos
filmes, de abandonar o tradicional método de memorização, mediante o qual os
alunos se limitavam a decorar páginas de insuportável sequência de eventos.
(...) por intermédio desse recurso visual os alunos poderiam aprender “pelos
olhos e não enfadonhamente só pelos ouvidos, em massudas, monótonas e
indigestas preleções” (2011, p.371-72).
No
entanto, o cinema, como objeto do ensino de História, é recente. Apenas na década de 1960, com as bandeiras
levantadas pela Escola dos Annales, no que diz respeito às inovações
teórico-metodológicas, bem como a expansão dos objetos de estudo da disciplina,
é que os historiadores e teóricos da Educação passaram a valorizar o cinema
como uma possibilidade didática, conforme já comentamos. Na década seguinte, o
cinema deve ser considerado como fonte e agente histórico, além de como valioso
recurso didático para o ensino de história. Somente nos anos 90 é que surgem
importantes obras na área metodológica com o intuito de orientar didaticamente
os docentes na prática adequada quanto à utilização de filmes em sala de aula.
Quando o Professor utiliza meios
como, por exemplo, o cinema em algumas de suas aulas, com o intuito de ilustrar
algum tema, essa prática pode sim gerar grande enriquecimento no que diz
respeito ao aprendizado, e acaba facilitando a compreensão de um determinado
tema, embora seja evidente que a leitura jamais deve ser desprezada. É notável
que os alunos demonstrem bastante interesse em assistir o filme trazido pelo
Professor, haja vista que a visualização do que está no livro didático facilita
a compreensão.
Esta prática de trazer o cinema para
a sala de aula deve vir acompanhada de responsabilidade. É imprescindível que o
Professor antes de exibir um determinado filme para os alunos, assista-o antes,
ou seja, assistir ao filme e preparar a aula deve ser a primeira atitude do Professor
que está de fato preocupado, e que tem como objetivo a aprendizagem de seus
alunos, até porque quando se utiliza este recurso filmográfico em sala de aula,
não é de uma hora para outra que os alunos sairão dali problematizando e
questionando o mundo em que vivem, haja vista que isso requer habilidade e
tempo por parte do Professor.
Mariza de Carvalho Soares (1994)
menciona que existem inúmeros filmes que podem trazer uma grande contribuição
ao estudo da História em função do tema que tratam. Segundo a autora: “O cinema
vem sendo visto como uma nova maneira de fazer e de ensinar história”. Para a
autora, utilizá-los como recurso pedagógico é fornecer ao aluno uma imensa e
rica fonte para um debate construtivo e enriquecedor na construção do saber.
É fato que ainda persiste a ideia e o
sentimento de desconfiança quanto à sua aplicabilidade em sala de aula, por
isso, como veremos adiante, o Professor que fizer uso deste, deverá sem dúvida,
contextualizar com a respectiva disciplina, por isso que o papel do Professor é
primordial, isto é, fazer com que o aluno aprenda melhor sendo um agente
participativo e não meramente um espectador.
“Não há fórmula mágica nem receita
teórica que substituam a reflexão e a perspicácia do professor em relação aos
alunos” (NAPOLITANO, 2003, p. 21). Portanto, é importante que o Professor tenha
a consciência de que é preciso planejar as aulas, pois planejamento é a alma do
sucesso para qualquer aula, e obviamente os alunos percebem quando existiu de
fato este preparo. Do contrário, o Professor corre o risco de ser taxado de
desorganizado e pode até perder o respeito dos alunos.
Lembrando que para ensinar História
é ir além dos fatos, datas comemorativas e até mesmo do uso de questionários, é
importante salientar que o ensino de História na sociedade atual impõe um
desafio ao professor, fazendo-o trazer à sala de aula, meios que facilitem o
processo de aprendizagem dos alunos. No que diz respeito ao cinema é nítido que
o cinema possui um caráter difusor e mediador de ideais, visões, realidades,
sociedade, cultura e também ficção. Sendo assim podemos perceber claramente a
influência do cinema em suas produções no que diz respeito ao período em que
foi produzida determinada obra.
É de suma importância que o educador
e o pesquisador considerem estas influências quanto ao uso deste tipo de fonte
tanto na sala de aula como nas suas pesquisas. O “fator crítico” na escolha dos
filmes, dos documentários, deve ser levado em consideração pelo educador, que
precisa ter o bom senso na hora dessa escolha. Hoje o aluno sofre um constante
“bombardeio” de informações, seja via internet, TV, rádio e vários outros meios
de mídia e propaganda. Bittencourt (2002, p. 14), explicita:
A escola sofre e continua
sofrendo, cada vez mais, a concorrência da mídia, com gerações de alunos
formados por uma gama de informações obtidas por intermédio de sistemas de
comunicações audiovisuais, por um repertório de dados obtidos por imagens e
sons, com formas de transmissão diferentes das que têm sido realizadas pelo
professor que se comunica pela oralidade, lousa, giz, cadernos e livro, nas
salas de aula. Se esse perfil diferenciado do público escolar tem apresentado
desafios para educadores, no caso da História as questões se avolumaram á
medida que a sociedade consumista tem se estruturado sob a égide do mundo
tecnológico, responsável por ritmos de mudanças acelerados, fazendo com que
tudo rapidamente se transforme em passado, não um passado saudosista ou como
memória individual ou coletiva, mas, simplesmente, um passado ultrapassado. Trata-se
de gerações que vivem o presenteísmo de forma intensa, sem perceber liames com
o passado e que possuam vagas perspectivas em relação ao futuro pelas
necessidades impostas pela sociedade de consumo que transforma tudo, incluindo
o saber escolar, em mercadoria. A História oferecida para as novas gerações é a
do espetáculo, pelos filmes, propagandas, novelas, desfiles carnavalescos...
Por conta disso, é imprescindível
que se proponha situações conflitantes de questionamentos a cerca destas
produções humanas (cinema) e o seu papel no processo de (re) construção
identitária e ao mesmo tempo de afirmação, como sujeito ativo e participativo.
Deve-se problematizar o contexto fílmico por meio de textos complementares e na
construção e exposição de questionamentos tanto bibliográficos como
biográficos, como por exemplo: Quem produziu o filme? Para que ou quem foi produzido?
O que diz ou não diz o filme? Quando e onde foi produzido?
Problematizando o contexto
cinematográfico, apoiado na historiografia apresentada pelo filme, fará com que
os alunos passem a ter uma ideia do que será analisado, isto é, haverá de fato
a construção do conhecimento, onde o educando terá a possibilidade de elaborar
representações pessoais sobre os conhecimentos, objetos de ensino e
aprendizagem. De acordo com Ferro:
[...] “o
cinema não será visto como meras ilustrações do conteúdo dado em sala de aula,
desde que os professores explorem suas múltiplas opções didáticas,
independentemente do gênero cinematográfico ao qual o filme pertence, seja ele
documentário, seja ficção”. (FERRO, 1992, p. 66).
Sendo assim, também é preciso considerar que os saberes históricos que
o Professor transmite, são destinados a sujeitos que trazem em suas bagagens,
experiências e vivências construídas em outros ambientes educativos, e por isso
poderão ter interpretações distintas.
Assim sendo, para que sejam realizadas aulas utilizando-se do cinema, o
Professor não precisa se tornar um crítico profissional, mas deve ter a
consciência de que ao utilizar este recurso, poderá sim de forma satisfatória
melhorar a qualidade do que se propõe a fazer, pois a promoção da expansão do
conhecimento historiográfico por meio da utilização consciente e metodológica
das narrativas cinematográficas irá contribuir de forma positiva para a
construção de uma nova relação de ensino e aprendizagem.
conclusão
O cinema não chegou ao patamar de
objeto historiográfico por meio de desacertos, pelo contrário, o filme e o
cinema adentraram na historiografia por intermédio do campo de atuação do
historiador, considerado diferente de outros campos como a história do cinema.
É importante que essa ampliação da reflexão seja contínua.
Quando dizemos sobre essa
continuidade, nos referimos às incumbências da teoria da história e da história
da historiografia, no que se referem aos historiadores elaborarem conceitos,
métodos, práticas, narrativas e compreensões de questões quando o objeto é o
cinema.
Para Ferro, caso exista uma contra
história possível por meio do cinema, ela parece manifestar-se primeiro no seu
trabalho com as fontes tidas como “tradicionais”, para posteriormente
deslocar-se para o cinema, ou seja, o autor preocupa-se com a veracidade da
fonte e com a busca do documento autêntico. Idealiza o alcance de uma
realidade, numa perspectiva que tem como eixo o fato histórico, reinterpretado.
Vale ressaltar que o cinema pode
perder a sua efetiva dimensão de fonte histórica caso não conseguirmos
identificar através da análise fílmica, o discurso que a obra cinematográfica
constrói sobre a sociedade na qual se insere, ou seja, essa perca se dá também
caso não sejam feitos apontamentos para suas ambiguidades, incertezas e
tensões. Indo mais além dessas questões, a análise fílmica é que proporciona a
mobilização da ideia de narrativa enquanto prática discursiva que também possui
características próprias no campo do cinema.
Agora, a respeito da utilização de
filmes como recurso didático, fica esclarecido que tal utilização, além do
dever de ser incentivada, essa prática sem dúvida abre um leque de
possibilidades para os alunos verem e entenderem os temas estudados na
disciplina de História. Porém cabe ao professor o principal papel, que é o de
estimular as discussões, o que permitirá o questionamento e decifração dos
alunos acerca da sociedade em que estão inseridos.
Jamais devemos esquecer que o uso de
filmes serve para complementar as aulas e os livros didáticos, não podendo ser
substituto dos demais recursos didáticos, mas sim entendido como instrumento
pedagógico eficaz, onde através do cinema, o professor/historiador tem a
possibilidade de exibir aos alunos a ideia de uma história como processo vivo
que as sociedades constroem no cotidiano.
É nítido que o cinema mexe com o
imaginário dos alunos pela sua rica e valorosa contribuição ao entendimento da
história, ao mesmo tempo em que, orientado pelo professor, instiga uma tomada
de consciência no decorrer do procedimento de análise.
Independente do gênero ou
modalidade, todo filme pode ser trabalhado como fonte documental, pois todo
filme é uma produção humana e deve ser compreendido enquanto tecnologia de
apoio, fonte e instrumento para o ensino, haja vista que são inúmeras as
possibilidades na relação cinema-história, quer seja pelo estudo da sociedade
que o produziu, ou também pelas representações culturais acerca de um contexto
histórico.
Em suma, o cinema nas salas de
aulas, significa uma grande oportunidade de tornar as aulas de História em mais
que um momento agradável de debates e aprendizado mútuo, mas também em
oportunidades permanentes para que os alunos pensem de forma crítica e se
manifestem politicamente.
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http://docslide.com.br/documents/historia-e-cinema-um-debate-metodologico-monica-almeida-kornis.html
IMAGEM
Página
15, O dia que durou 21 anos, foto
divulgação. Disponível em:
https://blogdotarso.com/2014/01/16/filmes-sobre-o-golpe-e-ditadura-militar-empresarial-no-brasil-1964-1985/ Acessado
em 29 de novembro de 2016.